Livro - Bahia de todos-os-santos
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“Esse é bem um estranho guia”, diz Jorge Amado no “Convite” que abre Bahia de Todos-os-Santos. “Com ele não verás apenas a casca amarela e linda da laranja. Verás igualmente os gomos podres que repugnam ao paladar.” Essas palavras resumem o espírito deste livro sui generis sobre a cidade de Salvador. Escrito originalmente em 1944, no auge da luta antifascista, manteve em suas sucessivas atualizações a abordagem visceral que o transformou numa obra ao mesmo tempo de celebração dos esplendores da cidade e de denúncia de suas muitas mazelas. A versão definitiva só ficou pronta em 1986. Quem melhor do que Jorge Amado, que cantou em tantos livros a “cidade da Bahia”, povoando suas ruas com personagens inesquecíveis, para fazer esse retrato de corpo inteiro da capital baiana? Pelas páginas deste livro desfilam as belezas arquitetônicas da metrópole - suas igrejas, átrios e palácios, suas ladeiras e ancoradouros -, bem como seus encantos naturais - praias, matas, morros, lagoas -, mas também o lado miserável da cidade, seus cortiços malcheirosos, a falta de saneamento e infraestrutura, o desamparo e a doença. Aqui e ali, fotografias de Flávio Damm utilizadas na edição de 1961 pontuam o que vai sendo descrito. Não se trata de um guia preocupado apenas com a descrição do pitoresco, mas de uma narrativa múltipla sobre o cotidiano da cidade e suas transformações ao longo das décadas. Do dia a dia do trabalhador braçal às receitas de quitutes baianos, da arte dos mestres da capoeira ao misticismo dos terreiros de candomblé, dos pequenos crimes dos “capitães da areia” à dura poesia dos pescadores e mestres de saveiros, da universidade às festas religiosas e pagãs, a vida de Salvador pulsa a cada parágrafo. Moradores da cidade, ilustres ou anônimos, são evocados aqui com a mesma vitalidade e frescor dos personagens dos romances do autor, convertido em cicerone que abre as portas de sua grande casa aos leitores do mundo.

Ficha Técnica