Livro - Ilhas, veredas e buritis
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Apesar da curta carreira cinematográfica, Eliane Lage foi uma das maiores estrelas da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, o lendário complexo de estúdios cinematográficos que tentou reproduzir no Brasil o modelo de produção hollywoodiano. Protagonista de clássicos do estúdio, Eliane Lage tornou-se um ícone do cinema brasileiro, mais conhecida como a Greta Garbo brasileira. Agora, Eliane lança uma nova edição revista e ampliada de seu romance autobiográfico Ilhas, Veredas e Buritis. Uma das novidades é o prefácio da cineasta Helena Solberg, que escreve: “Eliane ocupa um lugar único na história do cinema brasileiro. Tornou-se um ícone nas telas grandes na época de ouro da Vera Cruz e foi destaque de quatro dos primeiros filmes produzidos pelo estúdio”, observa. O livro, cujo prólogo é assinado pelo escritor Ignácio de Loyola Brandão, passa em revista toda a vida da atriz, desde sua infância, vivida ilha de Santa Cruz, na Baia da Guanabara, até os dias de hoje em Pirenópolis, Goiás. Ela narra sua relação de estreita proximidade com a socialite e princesa do café, Yolanda Penteado – a quem chamava de tia - que foi casada com o industrial e mecenas Ciccillo Matarazzo. Eliane vinha da família Lage, uma das famílias brasileiras mais ricas no início do século XX. Foi num jantar na casa de Yolanda que Eliane conheceu seu futuro marido, o diretor de cinema anglo-argentino Tom Payne, que viera ao Brasil a princípios dos anos 50 para trabalhar nos primeiros filmes da Vera Cruz. Yolanda era contra o casamento de Tom e Eliane, pois acreditava que o diretor era um “aventureiro”, vindo de dois casamentos e posteriores “desquites”. O casamento dos dois, porém, sacramentado em 1951, durou 15 anos e deu 3 filhos e 6 netos a Eliane. Tom, que após abandonar o cinema, abriu um antiquário em Guarujá - SP, faleceu em 1996, aos 81 anos. Eliane conta ainda que inicialmente não queria ser atriz, mas acabou aceitando protagonizar Caiçara (1950), o primeiro filme da Vera Cruz, porque era uma maneira de estar próxima de Tom, que foi seu grande “descobridor”. Com o desenrolar da história de amor, ela acabou se tornando estrela de outros filmes da Vera Cruz: Angela (1951), Terra é sempre Terra (1952) e Sinhá-Moça (1953). Eliane ainda tentou a carreira de cinema fora dos estúdios da Vera Cruz com Ravina (1958), mas sem a direção de Tom Payne não se sentiu à vontade. O filme Sinhá-Moça, adaptado do romance homônimo de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, completa 70 anos em 2023. Nele, Eliane contracena com ícones como Anselmo Duarte e Ruth de Souza em sua estreia no cinema. O filme recebeu prêmios como Leão de Bronze – Festival de Veneza; Urso de Prata – Festival de Berlim e Melhor Filme do Ano pelo Tema Social – Festival de Havana, entre outros. Num tempo em que ainda não se levantavam bandeiras, Eliane foi precursora e defensora de causas como o feminismo. Foi uma das primeiras mulheres a usar calça jeans e abraçou um casamento (por procuração no México) por autêntico amor a um homem, como já mencionado, que já havia passado por dois desquites, numa época em que não existia a lei do divórcio. Segundo o escritor Ignácio de Loyola Brandão em seu prólogo, Eliane foi estrela de cinema, mãe, dona de antiquário, guia turística, tradutora simultânea e, por fim, professora e fazendeira. “Quantos caminhos ela percorreu. Quando se termina a leitura deste livro, que tem atmosfera de romance, nos vemos diante de uma mulher que foi avançada e moderna em sua época, uma época que não a compreendia, não a podia alcançar. Esta é uma autobiografia que se insere dentro daquele gênero particular de life in progress”, decreta. Na nova edição do livro, o fã declarado da avó, o ator e produtor André Lage, escreve em seu posfácio afetivo que há uma certa semelhança geracional de hábitos e costumes herdados de sua avó e de sua mãe: “Minha mãe era a mãe mais moderna que eu já tinha ouvido falar. Sempre de jeans, criava cavalos, dirigia escutando Rolling Stones e sua risada preenchia as longas noites de whisky com seus amigos. Diferente dos meus amigos, eu não tinha como reclamar que minha mãe era careta (na verdade acho que eu era mais careta que ela). Já minha Vó nunca chegou perto de satisfazer a fantasia de uma senhora fofinha. Nada disso: ela era linda, forte e cuidava de uma fazenda de gado sozinha no meio de Goiás”. Esta é uma história sobre resiliência, feminismo e alegria. Como Eliane mesma diz: a felicidade é uma questão de sensibilidade.

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