sinopse | Nos contos de "A mulher que transou com o cavalo" e outras histórias, a cidade não se revela como mero pano de fundo ou coadjuvante das tramas, mas parece servir, antes, como interlocutora perfeita para a criação ficcional de João Ximenes Braga. A cidade – intensa e caótica – vai se formando a cada narrativa como um museu de tipos humanos, ora curiosos, ora com anseios que não escapam do comum dos homens. Personagens divertidos, grotescos, pitorescos, sentimentais, violentos, alguns bem dramáticos, quase todos com suas vidas íntimas expostas pelo ponto de vista dos narradores.
Não à toa o bar, a casa de show, a praia e a rua são exemplos de habitats típicos dos contos de João Ximenes. É através de tais nichos que alguns narradores ganham “invisibilidade” e tornam-se investigadores em potencial da intimidade alheia. Começam a despontar, entre outros, desejos, fetiches e perversões, que trazem, em muitos casos, o sexo para o centro da cena. Desse modo o sexo vai tendo o papel de via de libertação ou de aprisionamento, tensionando a narrativa de forma contundente e incisiva.
A psicologia ousada de seus personagens nasce da fragilidade ou da força, mas demonstram um ponto em comum: a busca de uma forma de felicidade que foge dos paradigmas da sociedade burguesa.
Sabe-se que a crônica é o mais flexível de todos os gêneros da literatura. Além da intensa capacidade de adaptação a vários tipos de “matéria” – circunstanciais ou não –, a crônica pode se banhar em muitas outras linguagens. Logo, um bom cronista é capaz de absorver, com o tempo, muitas técnicas de composição, o que – somado a uma arguta perspectiva de observador – pode levá-lo naturalmente à ficção. É justamente o que constatamos em "A mulher que transou com o cavalo" e outras histórias, de João Ximenes Braga, escritor já conhecido do público pelos seus textos quinzenais do caderno "Ela" do jornal O Globo e que vai revelando, com este livro, o vigor de sua criação ficcional. |
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