Livro - Autismos e Psicanálise Brasileira Práticas e Reflexões
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A prática clínica com crianças autistas suscita inúmeros questionamentos: seria mesmo possível uma criança fadada, quase que inevitavelmente, à recusa? Ou seja, seria possível uma criança resistente ao contato humano – seria uma escolha, haveria sofrimento, quais seriam as possibilidades? No decurso deste livro, o vislumbre inicial de que encontraríamos respostas exatas a esses questionamentos foi cedendo à constatação de que, em verdade, o conhecimento psicanalítico poderia suscitar novas formas de se olhar para essa questão, em que o olhar da falta, da recusa e de déficit comumente atribuído às crianças autistas perdeu espaço, conferindo enfoques múltiplos a respeito do tema. Em um momento de questionamento sobre a “eficácia” da psicanálise no tratamento de crianças autistas em instituições no nosso país, este trabalho visa apresentar aos profissionais da área e ao público em geral como o conhecimento psicanalítico sobre o autismo pode suscitar novas formas de entendimento do tema, possibilitando a criação de práticas que considerem suas idiossincrasias, resgatando, por conseguinte, as potencialidades dessas crianças. Assim, o objetivo do presente livro é compreender, valendo-se de um vértice histórico, o surgimento e o desenvolvimento das práticas institucionais psicanalíticas ligadas ao atendimento de crianças autistas, no Brasil, no período de 1990 a 2010. Os dados apresentados neste livro foram desenvolvidos a partir de uma pesquisa realizada em duas etapas: na primeira, foi feito um levantamento a respeito da produção psicanalítica brasileira sobre autismo em periódicos nacionais. A realização de entrevistas com os profissionais que mantiveram maior regularidade na produção científica sobre o tema no Brasil até o ano de 2010 compõe o segundo momento desse estudo, de forma a compreender as práticas institucionais de natureza psicanalítica que são empregadas na atualidade. Por fim, a clínica do autismo obriga-nos a olhar de modo cauteloso para os estados primitivos da mente, para as relações desenvolvidas em tenra idade, bem como para os impasses na constituição do psiquismo, de modo que o seu estudo é importante para se pensar não apenas os nós da infância, mas todos àqueles oriundos das primeiras relações e que se manifestam na vida adulta em variadas expressões de sofrimento.

Ficha Técnica