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Agrotóxicos e colonialismo químico
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Os agrotóxicos atingem com muito mais força mulheres, indígenas e camponeses que vivem no entorno dos cultivos de commodities — ou que são expulsos de suas terras pela irrefreável expansão de grandes plantações voltadas à exportação —, mas fazem parte do dia a dia de todos os brasileiros, uma vez que estão presentes na água e na alimentação de cada vez mais gente. Este livro compila dados alarmantes para que possamos começar a compreender a gravidade do problema representado pelo uso massivo de herbicidas, pesticidas e fungicidas para a saúde humana e para o meio ambiente, uma consequência direta da mundialização da agricultura, da concentração fundiária brasileira e da onipresença do agronegócio no país. Da leitura, emerge a conclusão de que produção agrícola deixou de ser sinônimo de produção de alimentos. *** Para alguns, este livro servirá de ponto de partida para entender como foi possível que um único sistema agroalimentar se espalhasse física e ideologicamente pelo planeta. Para outros, será um ponto de interrogação: por que cultivos que não alimentam seguem se expandindo ano após ano — e, pior, contando com uma profunda complacência diante da promessa eternamente renovada de que a solução para o problema da fome está finalmente a caminho? No Brasil, a soja, esse grão exótico que nenhum de nós come, é o vetor de uma guerra cultural chamada agronegócio. É o micro-organismo que une a febre do latifundiário dos Pampas com a do grileiro de Santarém, no Pará; do cantor sertanejo ao dono do frigorífico; do prefeito no interior de Mato Grosso ao desembargador no litoral da Bahia. Por debaixo de colheitadeiras e biotecnologia, por debaixo da face tech, o recurso didático é o mesmo de sempre: a pólvora. É o colonialismo na forma de venenos que os europeus já não querem e do mito da agricultura de precisão, que imprecisa e violentamente fumiga os vizinhos dos latifúndios, adoecendo o corpo e afetando a mente. Junto com o casco do boi, a soja transgênica expulsa o Guarani e o Kaingang no Sul, o beiradeiro da Amazônia e os geraizeiros no Cerrado. A onça, a sucuri e a capivara. O arroz, o feijão e a mandioca. Expulsa, violentamente, a crítica — inclusive a de Larissa, obrigada a se mudar para a Bélgica após uma série de episódios traumáticos. Quando tudo já era suficientemente trágico, eis que o agronegócio e o mercado financeiro encontraram no bolsonarismo o ponto de equilíbrio entre a febre da acumulação primitiva e a destruição do planeta. Desse encontro nasceram o dinheiro e a estrutura necessários para dar ritmo de progressão geométrica à expansão da soja, que ameaça se tornar a primeira cultura agrícola a reinar do extremo sul ao extremo norte do país. O futuro não está nas páginas do livro de Larissa: é ao presente que ela nos convida. É à urgência de um fim de mundo que se apresenta voraz. A pesquisadora reflete sobre a perseguição à cultura camponesa — e especialmente às mulheres — e nos convida a entender por que os conhecimentos acumulados ao longo de séculos são a única esperança de nos salvarmos do capitalismo. — João Peres, na orelha ISBN-10: 6560080226ISBN-13: 9786560080225Páginas: 112Edição: 1a EDIÇÃO - 2023Data edição: 2023-09-18 00:00:00Autor: BOMBARDI, LARISSA MIES