A recusa é um traço forte de vários personagens de Lacres, laços e suspiros. A recusa do presente, por exemplo, seja no caso do escritor com sua máquina Remington e uma urna de cinzas, seja no do sujeito que despreza aplicativo de banco, saca na boca do caixa e reclama: “a gentalha me quer digital”. Há os que recusem a sensatez, como Pedro, que vai atrás de uma mulher e sofre as consequências de outra recusa, a dela, em relação à vida urbana. E como não poderia deixar de ser, num livro de seres teimosos, acompanhamos até uma mula, convicta de que será capaz de procriar, afinal, desde 1527 zoólogos registraram “sessenta bebês nascidos de nós, ditas inférteis”.
Os tipos de Paulo Ludmer prosseguem resistentes. São homens, mulheres, crianças e, em menor quantidade, outros seres, da cidade de São Paulo ao interior de Minas Gerais à Terra Santa, mas com uma vulnerabilidade melancólica diante de perdas, escolhas e não-escolhas custosas que faz perguntar para que serve a vida.
Paulo parece responder, a vida serve para que seja expressada, representada. Poeta de origem e dono de um conhecimento enciclopédico, ele não se entrega ao cânone da escrita contemporânea que prega economizar nos adjetivos, fugir de diálogos declamados ou evitar a repetição de ritmos, o que o faz uma voz dissonante e por isso bem-vinda. Como seus personagens, Paulo teimosamente dá de ombros e escreve o que quer. E é nessa teimosia, tão característica dele, que reside muito da sua virtude e da graça de acompanhar Lacres, laços e suspiros.
Angela Marsiaj