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Memórias

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Um dos pioneiros da aviação, mito e herói da França “Contemplei pela primeira vez o espetáculo deslumbrante do ‘mar de nuvens’. Acima de mim, um céu azul de pureza ideal. À minha esquerda, um sol como não se pode ver da terra, pois ela está sempre envolta em vapores imperceptíveis que filtram os raios de luz, que se decompõem ou obscurecem. Lá em cima era a luz virgem no ar virgem. Era uma volúpia de ver e respirar. Eu deslizava sobre um oceano de prata. Descendo mais perto, esse mar ganhava relevo e se transformava em paisagens estranhas, caos de rochas, grutas, vales, precipícios... Minhas asas cortavam picos vertiginosos, sobrevoavam abismos inundados de brancura... Em minha cabeça, era um sonho que se desenrolava. A lembrança da vida comum flutuava distante e vaga.” Trecho de Memórias O celebrado escritor francês Blaise ­Cendrars classificava este livro como “o documento mais extraordinário, pitoresco e vivo que se pode ler sobre os primeiros dias da aviação na França e em todo o mundo”. O que o leitor tem em mãos é a edição integral das Memórias e dos Diários de guerra de Roland Garros, nunca antes publicados no Brasil. Este volume mostra como um garoto de vinte anos se apaixona pelo sonho de voar e, em 1909, compra de Alberto Santos Dumont, de quem era amigo, um dos lendários monoplanos Demoiselle, o primeiro ultraleve da história. Assim ele inicia uma fulminante carreira de aviador, que teria sua consagração quatro anos mais tarde, em 1913, quando se torna o primeiro piloto a cruzar o Mediterrâneo pelo ar – feito que ele realizou em seis horas, decolando de Fréjus, na França, e pousando em Bizerta, na Tunísia. Roland Garros teve uma vida breve, mas muito jovem já era uma verdadeira lenda na França, onde participava de uma equipe de aviadores que promovia grandes eventos aeronáuticos, shows de exibição, grandes espetáculos de acrobacias aéreas que atraíam multidões em todo o mundo. Esteve no Brasil, onde disputou e venceu uma competição aérea São Paulo–Santos. Ao passar pelo Rio de Janeiro, tornou-se o primeiro piloto a cruzar a Baía da Guanabara num avião e fez as primeiras fotos aéreas da então capital brasileira para cartões-postais. Tudo isso sem falar nos recordes de altitude que ele batia constantemente. Em 1913, levou seu avião Bleriot a 5.610 metros do solo, estabelecendo um novo recorde mundial, o que significava uma enorme proeza no começo do século XX. Quando começa a Primeira Guerra Mundial em 1914, alista-se na Força Aérea Francesa, participa de dezenas de com­bates e é preso pelos alemães ao fazer uma ­aterrissagem de emergência. Fica três anos encarcerado, sujeito a maus-tratos num campo de concentração, mas consegue fugir de forma cinematográfica, vestindo um uniforme alemão. Uma vez livre, faz questão de voltar ao combate e acaba morrendo abatido por um avião Fokker alemão um dia antes de completar trinta anos e a pouco mais de um mês do fim da guerra. Considerado herói da França, recebeu a medalha da Legião de Honra, a maior honraria dada pelo governo francês. Este livro de memórias detalha suas proezas e, numa linguagem muitas vezes poética, descreve a paixão do jovem piloto pelas alturas.

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