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Livro - Nóga
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Informações do Produto
Tal como os astronautas, por vezes, precisamos nos distanciar do solo materno para avaliar o nosso pequeno mundo com mais precisão e clareza. Da solidão do espaço vazio, constataremos humilhados aquilo que tenazmente nos recusamos admitir: O quão ínfimos somos! Paradoxalmente, quanto mais nos distanciamos, mais percebemos ao longe o quão gigantescos nos tornamos por ainda resistir a um Universo silencioso, voraz e imensurável, cuja fome insana abocanha e engole galáxias inteiras. Senti a mesma vulnerabilidade ao me refugiar em uma pequena cabana isolada da floresta, nela pude sentir intimamente o medo e o âmago da solidão a dimensionar minha insignificância, quedei-me humilde escorando-me no exemplo da mãe natureza para não sucumbir... Quanto mais frágil me sentia mais reprimia a soberba e mais submisso me vergava para que maleável fosse se fortalecendo o meu espírito. Não tendo a quem confiar meus medos tornei-me o melhor confidente de mim mesmo! Mal sabia que logo ali em frente à clareira iria me deparar com um estranhíssimo e improvável ser que incendiaria minha razão e questionaria as poucas certezas que ainda permeiam a minha existência... Fez-me acreditar que há um coração puro de criança a espera do nosso retorno, basta vasculhar a memória para relembrar em que curva do trajeto escorregou do peito e correr a resgatá-lo antes que o coveiro dos deuses o destrua. Através deste "ser quase inumano", percebi que neste estranho palco da vida, personagens insuspeitos se apresentam sob a camuflagem de estranhíssimas fantasias, cabe-nos despi-los para vir a conhecer o propósito de sua verdadeira identidade. Numa dessas noites abafadas da floresta, me surpreendi perambulando por uma estradinha vagamente iluminada até estancar amedrontado frente a um gigantesco ser, cuja pele rubra encharcada de suor refletia o brilho da fogueira descomunal a seu lado. Com a pá enorme arrebanhava uma infinidade de corações ressequidos e os atirava a fogueira para arder... O prazer escorria por seu semblante maligno, se chifres tivesse, eu diria ver o próprio Demônio em seu oficio! Num evidente contraste, uma ninfa a sua frente apressava-se a recolher aqueles que ainda pulsavam fracamente e os enfileirava na margem à espera improvável de serem resgatados... Não me fizeram digno de sua atenção e eu, um mísero sonâmbulo, tive a fortuna de resgatar o meu. Com ele pululando a mão encaminhei-me de volta à origem de meu sonho.