sinopse | O Deserto Vermelho de Michelangelo Antonioni é um filme que radicaliza as descobertas do neorrealismo cinematográfico ao fragmentar o mundo em unidades autônomas constituídas por imagens e sons desprovidos das relações de causa e efeito às quais o cinema clássico nos habituou. Isto reflete-se no olhar da protagonista, Giuliana, mais sensível do que as outras personagens aos sinais que recebe do mundo que a rodeia, mesmo que as suas reações sejam lidas como inadequadas por lentes mais racionais e convencionais. Maria Borio lança mão de uma ferramenta estética e heurística análoga ao entretecer os versos que compõem seu livro Do Deserto Vermelho. De pano de fundo, há a pandemia que assolou o mundo, a divisão de um país em áreas restritas, fechadas, denominadas pela cor vermelha de acordo com a maior gravidade dos contágios. Há nestes versos uma voz que é diário, outra que é missiva, há fragmentos de recordações da infância entremeados com o presente e há, enfim, um olhar único e concentrado sobre a presença da natureza e de outros seres vivos. O próprio pensamento da poeta se desdobra em um Outro com o qual instaura-se um diálogo. É uma alegria saber que a voz de Maria Borio, uma das poetas proeminentes da poesia contemporânea italiana, chega finalmente ao leitor brasileiro. |
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