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Livro - À sombra do cipreste
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Informações do Produto
Na Bolsa de Valores que é a preferência literária do público, o conto sofre oscilações, passando por fases de maior ou menor popularidade.  Independente desta questão de gosto, porém, há uma tradição contística brasileira que, partindo de Machado e Lima Barreto, passando por Mário de Andrade e Guimarães Rosa, chega aos nossos dias, permeando inclusive o trabalho de jovens escritores, entre os quais se encontra o premiado Menalton Braff. Não tenham dúvida os leitores: estamos diante de um notável contista. Provam-no as histórias deste À Sombra do Cipreste. O que temos aqui é o conto em sua melhor expressão. São textos muito curtos, mas carregados de intensidade dramática: aquelas situações-limite em que o ser humano se vê cotejado com sua realidade externa e interna. Crispação é o título de um dos contos, e este título poderia resumir o estilo do autor: esta espasmódica, tensa contração que não deixa espaço para mais nada, a não ser o que é essencial na existência. Cada texto gira em torno ao momento do tudo ou nada, o momento da verdade – que só o talento autêntico pode captar e retratar.
Realista, Menalton Braff trabalha com personagens tirados do cotidiano, gente que todos nós encontramos na rua, no trabalho, no convívio familiar. Mas estes personagens têm segredos, vivem dilemas. E estes segredos, estes dilemas, constituem-se a matéria-prima da literatura de Menalton Braff. Tomem uma história como Moça debaixo da chuva: os ínvios caminhos (e me perdoem por resumi-la antes que vocês a leiam). O cenário é “uma rua (...) melancólica e metalúrgica”. Notem, para começar, a força e a originalidade desta imagem, que sintetiza a situação de muitas cidades industriais brasileiras: melancólica e metalúrgica. De dentro de um bar, o narrador observa uma linda moça, contra uma parede “suja e de reboco carcomido”, espera um ônibus. Chove forte e a enxurrada que corre pela sarjeta arrasta uma caixa de papelão “com que eu brincava de barco”. O destino da caixa é o esgoto, mas, como que recusando tal destino, a caixa encalha, resiste à correnteza. Por fim é vencida e se vai para o sorvedouro. No mesmo momento, passa o ônibus – e um instante depois só resta a parede, “encharcada e de reboco arruinado”. A torrente na sarjeta é assim uma metáfora para a torrente da vida. Da vida, que pode mudar em questão de segundos. A vida que, como um viajante, vai-se de repente, deixando apenas “um cheiro forte de estrada” (O relógio de pêndulo). E, ao ir-se, coloca uma questão, como lembra o último parágrafo de Terno de reis: em que poderiam as coisas terem sido diferentes? “Estremeço com essa pergunta”, diz o narrador, “e meus olhos secos e abismados não encontram resposta.”
Menalton Braff não tem respostas prontas; este não é um livro digestivo, fácil. Mas o que ele nos oferece é muito melhor: é a inquietação suscitada por suas belas histórias, que nos levam a procurar caminhos ali onde os verdadeiros caminhos sempre estiveram: dentro de nós mesmos. Não é outra a função da grande literatura: através da beleza dos textos, revela-nos a verdade que está oculta em cada pessoa, em todas as pessoas.
Moacyr Scliar
(texto original da orelha assinada na primeira edição)